segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NOS ANOS INICIAIS

Caroline Kruger Coral[1]
Resumo
Este artigoaborda questões relacionadas a variações linguísticas que estão presentes no ambiente escolar. Procurou-se relatar o quão importante é a compreensão das variadas formas de se expressar dos alunos, durante o ensino fundamental e o seu processo de ensino aprendizagem feita pelo educador. Apresenta-se ainda neste artigo, situações onde o fracasso escolar está relacionado com o fato da língua falada ser colocada em segundo plano e os conteúdos gramaticais serem prioridades no processo de aprendizagem. Ressalta-se também um outro fator de extrema importância que é a função da escola como um meio  propiciador para transformações sociais e que não aceita nenhum tipo de descriminação relacionada a fala dos alunos. Por intermédio dos assuntos abordados, pode-se notar a riqueza da valorização das diversidades culturais, assim como as diversidades dialéticas no ambiente escolar para o processo de ensino aprendizagem do educando das séries iniciais.

Palavras-chave: Variação linguística, ensinoaprendizagem, escola, transformação social.

[1] Aluna acadêmica do curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto de Ensino Superior Santo Antônio - INESA, orientada pela professora Christiani Santos Guedes Machado na disciplina de Fundamentos da linguística. 

1 INTRODUÇÃO

A partir de meados do século XX houve uma reviravolta nos estudos relacionados á linguística o que acabou resultando em tornar a língua falada em objeto de estudo para os profissionais da área. O seu estudo vem se tornando uma grande ferramenta para os educadores que buscam oferecer qualidade de ensino aos seus alunos, pois entende-se que, já que a linguagem falada é o instrumento principal da comunicação, é essencial que compreenda-se as suas influências no interação entre os indivíduos. A linguística vem então, estudar mais a fundo as variações na fala.
É preciso saber que a há diversos fatores que podem interferir nas variações de linguagem. São elas o sexo, idade, condição socioeconômica, grupos sociais frequentados, grau de instrução, profissão e etc. Esses fatores acabam por influenciar os sujeitos falantes e desta maneira, estes influenciam outras pessoas em outros ambientes sociais. Portanto, assim dá-se início as variações linguísticas.
As diversas variações linguísticas que acontecem nos diferentes grupos sociais são decorrentes dos fatos sociais em que o indivíduo passou, ou passa. A escola é uma instituição de ensino que busca reforçar aos alunos valores sociais que pregam entre tantos valores, a tolerância e respeito as variações de linguagens faladas, não aceitando de forma algumas qualquer tipo de pré-conceito ou julgamento para com diferentes grupos de estudantes que possam vir a falar de maneira diferente que os demais. Diante disso, entende-se que não é dado a escola o direito de pontuar aos alunos o que é certo ou errado de se falar, mas devisee proporcionar ao aluno experiências onde haja troca de informações e culturas para o enriquecimento deste grupo.


2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A LÍNGUA CULTA, AS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS E O PRECONCEITO LINGUÍSTICO

O processo da variação linguística têm ficado esquecido em sala de aula pois o que mais se houve falar é sobre a super importância da língua culta e suas normas gramaticais. Por isso, este é um fator que vem sendo pouco desenvolvido com os estudantes. Em consequência disso, o educador acaba agindo de maneiras inadequadas perante os alunos. Para compreender mais sobre isso o professor deve entender que a língua é algo vivo e que se modifica ao longo do tempo, portanto, deve-se considerar sim a fala dos vivos que a utilizam (PCN, 2000).
Em virtude dos indivíduos que fazem uso da língua falada serem pertencentes de diferentes grupos socias, tais como mencionados anteriormente, pode-se afirmar que a língua é mutável, heterogênea. Castilho (2001) afirma que se houvesse uma reflexão acerca da língua falada, logo se entenderia e compreenderia a importância da língua falada. Compreede-se com isso que se os educadores e os alunos refletissem acerca da língua falada e suas variações ficaria mais fácil de compreender a língua escrita e o seu uso correto.
Para que esse ato de refletir realmente aconteça, é preciso notar que a linguagem e a sociedade estão ligadas entre sí e de maneira inquestionável. Esse ligação entre esses dois fatores é o que forma a base para o início da comunicação mais utilizada desde o início da história da humanidade, a fala (MUSSALIN; BENTES, 2012). É por meio da fala que o ser humano se expressa, e, é assim que ocorre a comunicação entre os indivíduos e, por isso, a língua não é algo morto, ou que não se desenvolva. Segundo Mussalin e Bentes (2012, p. 25)

Interessantemente, para Saussure, a língua é um fato social, no sentido de que é um sistema convencional adquirido pelos indivíduos no convívio social. Mais precisamente, ele aponta a linguagem com a faculdade natural que permite ao homem constituir uma língua.

As variações linguísticas tem grande importância no processo de valorização cultural no ambiente escolar. Segundo leituras feitas para elaboração deste artigo, constatou-se que essa valorização cultural da língua tem uma forte influência no processo de ensino aprendizagem dos alunos mais desfavorecidos economicamente, já que somente as famílias com melhor poder aquisitivo podiam mandar seus filhos para as escolas. Com a preocupação da coroa portuguesa em oferecer ensino de qualidade para todos os brasileiros, surgiram leis ao longo das décadas que garantiriam que todos os cidadãos tinham direito á educação de qualidade (MORAES, s.d.). Ainda com a educação voltada para a elite, era exijido dos alunos um certo grau de conhecimento gramatical, e que a maioria dos alunos vindos de famílias pobres não tinha. Surge aí as primeiras desigualdades linguísticas dentro das escolas.
Ainda que os estudos da sociolinguística tenham tido grandes avanços e haja muito material de pesquisa disponível para que os professores desfrutem, este é ainda uma situação que muitos educadores sentem dificuldade e despreparo para lidar. A linguagem do dia a dia é vista como imprópria para a sala de aula, enquanto isso, a língua culta toma espaço e é dada como correta. Assim sendo, aos poucos, surgem os primeiros indícios de preconceito linguístico. Portanto, é imprescindível que os educadores repensem as suas práticas que dão margem para que esse fenômeno ocorra.
A escola assume uma grande parcela de culpa no fracasso escolar quando se trata dos alunos com poder aquisitivo menor. As instituições escolares tem impregnada uma cultura de ensinar para os ricos e também assumem ser correto o que está relacionado a cultura desses alunos. Os profissionais da educação precisam compreender que essa atitude gera uma descriminição linguística, quando deveria envolver todas as diferentes culturas linguísticas para que todas possam ser devidamente valorizadas (SOARES, 1996).
O fracasso escolar pode também estar ligado a outro importante fato, a supervalorização da escrita. Os educadores exijem que os alunos conduzam a sua fala da mesma maneira como escrevem. Porém, sabe-se que isso não ocorre na prática pois a língua culta escrita quase não está presente na fala. De acordo com Bagno (2008, p. 56)

Do ponto de vista da história de cada indivíduo, o aprendizado da língua falada sempre precede o aprendizado da língua escrita, quando ele acontece. Basta citar os bilhões de pessoas que nascem, crescem, vivem e morrem sem jamais aprender a ler e a escrever! E, no entanto ninguém pode negar que são falantes perfeitamente competentes de suas línguas maternas.

É fundamental compreender que não se considera em nenhum momento o desencorajamento do estudo gramatical, todavia, o professor deve mostrar aos alunos que cada língua tem suas normas gramaticais. Sendo assim, a instituição escolar deve sim, considerar ambas as interpretações, escrita e fala, haja visto que há espaço para as duas considerando os mais diversos contextos sociais.
Cabe á função do educador ensinar a língua padrão, a gramáticas e as regras de uso aos seus alunos, mas tudo isso sem desvalorizar a variação linguística que é utilizxada por cada aluno. A afirmação de que determinado aluno fala de maneira incorreta acarretará em questionamentos acerca da cultura vivida por ele, o que, mais uma vez, acosiona o preconceito linguístico. O PCN - Língua Portuguesa (2000, p. 48 - 49)  menciona o seguinte

Não é papel da escola ensinar o aluno a falar: isso é algo que a criança prende muito antes da idade escolar. Talvez por isso, a escola não tenha tomado para sí a tarefa de ensinarquaisquer usos e formas da língua oral. Quando o fez, foi de maneira inadequada: tentou corrigir a fala errada dos alunos - por não ser coincidente com a variedade linguística de prestígio social -, com a esperança de evitar que escrevessem errado. Reforçou assim o preconceito contra aqueles que falam diferente da variedade prestigiada.

Com a intenção de transmitir o conteúdo de maneira correta envolvendo todos os alunos, sendo eles das mais diversas camadas sociais, os profissionais da educação precisam estar se atualizando á respeito da linguística e seus estudos. Definir seus objetivos e selecionar metodologias de trabalho fazem parte desse processo também, mas não se deve esquecer de não expor o aluno á discriminação. A melhor forma de, portanto, fazer com que o aluno interaja e compreenda o conteúdo, sem deixar o seu dialeto de lado, é associando a fala á escrita no processo de ensino e aprendizagem.

2.3 A POSTURA DO PROFESSOR MEDIANTE AO PRECONCEITO LINGUÍSTICO NAS ESCOLAS

O preconceito linguístico é um fato muito presente nos ambientes escolares, porém não é saudável que essa prática exista. Esse tipo de preconceito deve ser combatido por meio da reeducação de uma sociedade egocêntrica, tornando-a mais doce e aberta. Esse acontecimento só será possível se cada indivíduo que a compõe enxergar o indivíduo que está do seu lado como pertencente a uma cultura diferente da sua, sem julgamentos. Cabe a cada cidadão aceitar ou repudiar este tipo de atitude para tornar a sociedade um espaço para todos.
Novamente buscando conceitos de Mussalin e Bentes (2012, p. 43) em seu livro sobre a introdução á linguística, encontra se que, 

Frequentemente ouvimos falar em línguas simples, inferiores, primitivas. Para a Linguística, esse tipo de informação carece de qualquer fundamento científico. Toda língua é adequada à comunidade que a utiliza, é um sistema completo que permite a um povo exprimir o mundo físico e simbólico em que vive. É absolutamente impróprio dizer que há línguas pobres em vocabulário. Não existem também sistemas gramaticais imperfeitos.

Aos educadores que puderam reverter este tipo de mentalidade, puderam presenciar o quão maravilhoso para o processo de aprendizagem é reconhecer e incorporar os diferentes fenômenos linguísticos em classe. Essa reflexãoé indispensável para o educador que quer se conscientizar para estar preparado para dar o seu melhor em sala de aula. Novamente menciona-se a importância da adequação e interação do professor com os avanços dos estudos dessa área do conhecimento. Ao invés de transmitir a tradicional gramática, o professor poderia produzir seu próprio conhecimento com basena própria. O pedagogo deve ir em busca de metodologias que o permitam a, de forma descontraída, transmitir aos educandos os diversos conhecimentos aerca das variações linguísticas (CAGLIARI, s.d.).
Observou-se contudo, que o ensino da língua portuguesa é um desafio para os professores, pois precisam tomar cuidado para não acabar trabalhando apenas uma forma gramatical e esquecendo das variações que a língua apresenta. O educador precisa oferecer á classe o ensino das normas gramaticais, porém, aliado á isso, deve estar o estudo das outras formas de comunicação. Seus cuidados vão muito além da escola, eles devem considerar o contexto social em que cada aluno vive para, então, planejar sua abordagem de ensino. Essa transformação no modo de ensino da língua não ocorre sem que o pedagogo busque se atualizar com estes assuntos. Essa mudança de postura confere ao aluno a oportunidade de interagir intelectualmente com outros níveis educacionais diferentes do seu, auxilia na diminuição do fracasso escolar e afeta diretamente aos que sofrem com o preconceito linguístico.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tempos que o estudo das linguagem vem sendo estudado por cientistas. Mas o que mais os chama a atenção são os efeitos da valorização das variedades linguísticas no processo de ensino e aprendizagem e como isso afeta o trabalho pedagógico dos professores. Diante desses estudos realizados, obteve-se a comprovação de que o fracasso escolar ocorre também em decorrência da supervalorização de algumas linguagens, assim como do estudo da gramática.
Para encontrar um caminho para lidar com esse fracasso escolar, em especial de alunos vindos de classes sociais desfavorecidas, o pedagogo deve levar em consideração todos os dialetos falados pelos alunos da classe. Esses dialetos representam um pouco da realidade de cada educando.
A escola precisa levar em conta essas diferentes maneiras de se comunicar, se quiser se reorganizar para melhorar sua qualidade de ensino. É indispensável que os educadores reflitam e adequem suas práticas pedagógicas e repensem sobre suas posturas em relação as variações da língua apresentadaspelos seus alunos.
Os estudo gramaticais devem ser praticados sim pelos alunos, pois eles fazem parte de uma sociedade que exije isso deles. Mas, além de saber utilizá-las, eles devem ser preparados para saber que há mais de uma possibilidade de escrita e de fala. E, que para aplicar a gramática normativa corretamente em diferentes contextos, é imprescindível o o conhecimento do dialeto falado. Tudo isso irá repercurtir através dos alunos de baixa renda, que com sua colaboração irão espalhar esse novo pensamento, consequentemente, afetando o preconceito linguístico e contribuindo para a melhoria do ensino e aprendizagem dos alunos das séries iniciais.


REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2008.

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: Língua Portuguesa / Secretaria da Educação Fundamental. ed. 2. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Algumas questões de linguística na alfabetização. (s.d.), <Disponível em http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40140/1/01d16t05.pdf> Acessado em: 28 out. 2015.

CASTILLHO, A. T de. A língua falada no ensino de português. ed. 3. São Paulo: Contexto, 2001.

DALMÔNICO, Vilde Luzia; FERREIRA, Reginaldo José; PEZZI, Marcelo Rodrigo. Guia Para Apresentação de Trabalhos Acadêmico. Joinville, 2013.

MORAES, Carmen Sylvia Vidigal (et al). O beabá do Brasil - de Cabral ao Enem:    um panorama da educação brasileira. (s.d.), <Disponível em http://educarparacrescer.abril.com.br/historia-educacao/> Acessado em: 21 out. 2015.
MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina (org.). Introdução à linguística - Domínios e fronteiras. ed. 9. São Paulo: Cortez, 2012.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. ed. 2. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.



[1] Aluna acadêmica do curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto de Ensino Superior Santo Antônio - INESA, orientada pela professora Christiani Santos Guedes Machado na disciplina de Fundamentos da linguística.

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