segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

CONTAÇÃO DE HISTÓRIA: INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM NOS ANOS INICIAIS

                                                                                                                   Tainara Librelato[1]

Resumo 

Neste artigo tem como propósito que o professor reflita sobre sua prática e seus instrumentos que utiliza em sala de aula, consequentemente o aprimoramento da linguagem oral dos seus alunos. Além de ressaltar a importância da contação de história nos anos iniciais, citaremos também como este professor deve contá-las, a entonação na fala, mostrando aos alunos o quanto é prazeroso o mundo da contação de histórias.

Palavras-chaves: Contação de história, leitura, alfabetização, aprendizagem.

1  INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da linguagem da criança vai de uma estimulação desde o inicio da gestação, é recomendado para as mães que após alguns meses, ela inicie a interagir com o bebê, conversando, cantando e contando histórias, esta estimulação deve perpetuar no decorrer do crescimento da criança. Observou-se que o âmbito familiar é uma influência importante, pois a criança, convivendo com adultos que tem gosto pela leitura, também adquirem o mesmo.
Com este prazer pela leitura a criança desenvolve além de suas habilidades escritas, como aprimora significativamente sua fala, onde o indivíduo aprende e consegue se expressar melhor, conversar com os colegas, sua dicção é melhor. Com esta estimulação há uma série de fatores que devemos ressaltar se analisarmos não há maléficos nesta ação.
Devemos reforçar que esse incentivo não deve ficar somente em casa, a escola, como um dos principais formadores de caráter e de opinião da criança, deve incentivar e demonstrar o quão é importante. Portanto, fica claro que essa prática, quando bem trabalhada, contribui de forma significativa e produtiva para a construção da aprendizagem das crianças dos anos iniciais.
Sabe-se que quando a criança é estimulada a ouvir histórias, ela encontra facilidade no desenvolvimento da fala, familiarizando-se com os textos, descobrindo o mundo da fantasia e da imaginação. Nos dias em que nos encontramos hoje, no qual a sociedade necessita de mais conhecimento, mas ao mesmo tempo agilidade, criatividade e coerência na fala, destaca-se aquele que tem mais conhecimento, e consequentemente é aquele lê.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A RELEVÂNCIA DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DA FALA DO ALUNO

            Que a escola é o principal ambiente de aprendizagem das crianças, isto já sabemos, mas será que nós educadores sabemos aprimorar e desenvolver todas as potencialidades dos nossos alunos?
            Hoje quando falamos em séries inicias, nos remetemos a duas disciplinas e assuntos específicos delas, português e matemática. Em português a escrita e na matemática suas operações, infelizmente acabamos deixando de lado assuntos de grande relevância, tais como a resolução de problemas, que observando, percebemos o grande déficit de interpretação dos alunos do fundamental II e o primordial, a fala.
            Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p.38) nos afirmam que:

Não é papel da escola ensinar o aluno a falar: isso é algo que a criança aprende muito antes da idade escolar. Talvez por isso, a escola não tenha tomado para si a tarefa de ensinar quaisquer usos e formas da língua oral. Quando o fez, foi de maneira inadequada: tentou corrigir a fala “errada” dos alunos — por não ser coincidente com a variedade linguística de prestígio social —, com a esperança de evitar que escrevessem errado. Reforçou assim o preconceito contra aqueles que falam diferente da variedade prestigiada.

            Como nos mostra o PCN, o trabalho de linguagem oral está inserido em sala de aula, é trabalhado, mas de forma fragmentada e algumas vezes de forma errônea, não devemos demonstrar preconceito com as variações linguísticas que encontramos em sala de aula, devemos trabalhar com todas elas, e mostrar como é falada a linguagem formal, até porque quando redigimos um texto, independente da região, ele é escrito em uma linguagem formal.
            Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997 p.38) ressalvam que “Eleger a língua oral como conteúdo escolar exige o planejamento da ação pedagógica de forma a garantir, na sala de aula, atividades sistemáticas de fala, escuta e reflexão sobre a língua”.
            Uma prática de linguagem oral em sala é a contação de história, que hoje é pouco utilizada após a educação infantil, neste período da educação infantil, as histórias tem espaço todos os dias na rotina dos alunos, onde a professora conta, após a contação eles conversam sobre a história, assim a professora vai trabalhando a oralidade. Passando para o primeiro ano, esta prática vai desaparecendo até o momento em que não está mais presente.
            De acordo com Cagliari (1989), a prática da leitura não pode ser deixada em segundo plano na sala de aula e na vida, sendo uma atividade em que a professora e a escola dedicam-se apenas poucos minutos, dando maior atenção a dificuldades da escrita. Considera-se isso um descaso pela leitura e suas atividades, pois é lendo que o aluno aprimora e desenvolve sua fala e consequentemente sua escrita.
De acordo com o PCN (1997 p. 40):
O trabalho com linguagem oral deve acontecer no interior de atividades significativas: seminários, dramatização de textos teatrais, simulação de programas de rádio e televisão, de discursos políticos e de outros usos públicos da língua oral. Só em atividades desse tipo é possível dar sentido e função ao trabalho com aspectos como entonação, dicção, gesto e postura que, no caso da linguagem oral, têm papel complementar para conferir sentido aos textos.

            O mundo da literatura é uma fonte na geração de conhecimento, na expansão de percepção do mundo, possibilitando à criança o desenvolvimento pessoal, a imaginação, a criatividade, despertando a curiosidade e o desejo pela leitura de forma prazerosa.
            Um dos maiores benefícios da contação de história sendo ela contada pela professora ou lida pelo próprio aluno, é a fala. Este é um tema que causa certa repulsa dos alunos, pois muitos deles têm receio de falar em publico, apresentar trabalhos, etc.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997 p.38) afirmam que,

Expressar-se oralmente é algo que requer confiança em si mesmo. Isso se conquista em ambientes favoráveis à manifestação do que se pensa, do que se sente, do que se é. Assim, o desenvolvimento da capacidade de expressão oral do aluno depende consideravelmente de a escola constituir-se num ambiente que respeite e acolha a vez e a voz, a diferença e a diversidade. Mas, sobretudo, depende de a escola ensinar-lhe os usos da língua adequados a diferentes situações comunicativas. De nada adianta aceitar o aluno como ele é, mas não lhe oferecer instrumentos para enfrentar situações em que não será aceito se reproduzir as formas de expressão próprias de sua comunidade. É preciso, portanto, ensinar-lhe a utilizar adequadamente a linguagem em instâncias públicas, a fazer uso da língua oral de forma cada vez mais competente.

É importante que o professor dê espaço em sala de aula, para que os alunos possam se expressar, falar suas ideias, compartilhar suas vivências, assim o aluno compreenderá que também tem voz e vez em sala.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997 p.39) nos mostra que:

Não basta deixar que as crianças falem; apenas o falar cotidiano e a exposição ao falar alheio não garantem a aprendizagem necessária. É preciso que as atividades de uso e as de reflexão sobre a língua oral estejam contextualizadas em projetos de estudo, quer sejam da área de Língua Portuguesa, quer sejam das demais áreas do conhecimento. A linguagem tem um importante papel no processo de ensino, pois atravessa todas as áreas do conhecimento, mas o contrário também vale: as atividades relacionadas às diferentes áreas são, por sua vez, fundamentais para a realização de aprendizagens de natureza linguística.
            É papel do professor criar situações para que seus alunos aprimorem e desenvolvam sua fala.

2.2 CONTEXTO HISTÓRICO DAS HISTÓRIAS

            As crianças, há alguns séculos, atrás eram considerados mini adultos, participavam de festas, decisões políticas e até se vestiam como adultos, não tinham o momento de brincar, de ouvir histórias como temos hoje. Após as reorganizações dos grupos familiares, a criança começou a ser valorizada e vista como tal.
 “Começa a ser considerado um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria diferenciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação especial, que a preparasse para a vida adulta”. (CUNHA, 1991, p.22)
Como consequência destas inúmeras mudanças, a mãe que antes ficava em casa, teve necessidade de ir trabalhar fora e não tinha onde deixar os filhos, aqui surgiram os jardins de infância, inicialmente era só um lugar onde as mães deixavam seus filhos para irem trabalhar, após alguns anos concretizou-se o real objetivo dos jardins de infância, a aprendizagem, o desenvolvimento, a interação social, o lúdico, etc.
Corroborando ( MATTOS, 2009, p.15) ,

A literatura infantil foi se tornando universal ao mesmo tempo em que foram surgindo vários representantes que assumiram a escrita infantil e propuseram diferentes obras. Entre eles os autores mais importantes, podemos citar: Andersen, Carlo Colodi, Amicis, Lewis Carroll, J.M.Barrie, Marki Twain, Charles Dickens, Ferenc Molnar. Estes autores difundiram uma divulgação da literatura infantil por muitos países e o Brasil não se eximiu desta nova realidade. No Brasil, não sendo diferente, teve a literatura infantil voltado a obras pedagógicas, sendo estas adaptações de produções portuguesas. Neste país a verdadeira literatura infantil brasileira foi representada por Monteiro Lobato que introduziu uma essência que a literatura infantil precisava em seu surgimento.

            Analisando, percebemos que as histórias já estão inseridas em nosso meio desde muito tempo, só hoje ela tem o seu real significado, e não somente a contação para aprender a ler, mas sim também aprender a falar.
2.3 PORQUE CONTAR HISTÓRIAS PARA CRIANÇAS?
            No momento histórico onde nos encontramos hoje, a maioria das crianças não brincam mais nas ruas, não tomam mais banhos de chuvas, não tem mais o lúdico na vivência do seu dia a dia, por isso a extrema necessidade da contação de história na rotina das crianças.

            De acordo com PINTO, Fernanda Chequer de A. (2015):

A história tem também a função social, e a contextualização do indivíduo no seu tempo e ambiente, com os valores do seu agrupamento, tendo como base a evolução dos espaços, indivíduos e da sociedade. A criança que ouve histórias, comprovadamente se tornará um adulto mais criativo, flexível e melhor preparado emocionalmente, despertando processos internos de compreensão e adaptação.  Além disso, quem lê para uma criança não lhe transmite apenas o conteúdo da história, promovendo seu encontro com a leitura, possibilita-lhe adquirir um modelo de leitor e desenvolve nela o prazer de ler e o sentido de valor pelo livro.

            A literatura infantil dialoga com todas as áreas que oportunizam aprendizado: artes, valores, educação, imaginação, criatividade, escuta, contato com as palavras, compreensão, interpretações, e a fala que ganha uma entonação diferente quando é lido um poema ou uma narrativa, e a aprimoração dela mesma.
Refere MATEUS, Ana do Nascimento Biluca  et al., (S/D p. 55)

De acordo com vários estudiosos, a contação de histórias é um precioso auxílio à prática pedagógica de professores na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A contação de história instiga a imaginação, a criatividade, a oralidade, incentiva o gosto pela leitura, contribui na formação da personalidade da criança envolvendo o social e o afetivo.
            Como vimos, a contação de história é um instrumento de aprendizagem onde o lúdico está presente em todo processo, tornando a aprendizagem muito mais significativa.
            Resgatando os princípios de MATEUS, Ana do Nascimento Biluca  et al., (S/D p. 56)
Por isso, contar histórias é saber criar um ambiente de encantamento, suspense, surpresa e emoção, no qual o enredo e os personagens ganham vida, transformando tanto o narrador como o ouvinte. O ato de contar histórias deve impregnar todos os sentidos, tocando o coração e enriquecendo a leitura de mundo na trajetória de cada um.

O momento da contação de história na educação infantil é um dos mais esperados, e nas series iniciais mais ainda, pois é algo que não ocorre no dia a dia. Como já citado acima a contação de história traz inúmeros benéficos na aprendizagem do aluno, assim necessitando de uma organização e preparação do professor (mediador).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que a linguagem oral é algo que adquirimos antes mesmo de irmos à escola, mas isto não nos diz que não há necessidade de trabalha-la em sala.  Há diversas formas de se trabalhar a linguagem oral em sala de aula de forma lúdica e diferenciada. A contação de história, por exemplo, é algo que pode ser trabalhado todos os dias, alguns dias somente a contação, outro dia uma conversação sobre a mesma, seminários, etc.
A fala da criança é reflexo dos estímulos da família e da escola, pois é papel da escola fazer com que a criança consiga se expressar oralmente e falar de forma clara e objetiva, pois também não basta apenas impressionar com palavras, o aluno tem que ter clareza e coerência em sua fala. O incentivo à participação em debates em sala, apresentações de trabalhos de forma menos “engessada”, mais descontraída.
Por fim, conclua-se que a escola necessita de uma pedagogia oral. É necessário que os professores excitem a oralidade de seus alunos. Este exercício contribuirá para futuros cidadãos de voz ativa e com a capacidade de expressar-se.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Parâmetros curriculares nacionais: Lingua Portuguesa/Secretaria da educação fundamental. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.
CAGLIARI, Luiz Carlos.Alfabetização e linguística. São Paulo: Scipione, 1989.
CAMPOS, Maria Inês Batista.  Ensinar o prazer de ler. São Paulo: Olho d’ Água, 1999.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000.
CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: Teoria e Prática. 12 ed. São Paulo. Ática, 1991.
DALMÔNICO, Vilde Luiza; FERREIRA, Reginaldo José; PEZZI, Marcelo Rodrigo. Guia acadêmico, versão 2013. INESA. Joinville-SC.
DIONÍSIO, Ângela Paiva. Análise da conversação. In: BENTES, Anna C. & MUSSALIM, Fernanda. Introdução à lingüística domínios e fronteiras 2. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2012.
DOHME, Vania D’Angelo. Técnicas de contar histórias: um guia para desenvolver as suas hablidades e obter sucesso na apresentação de uma história. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: histórias e histórias. São Paulo: Ática, 2007.
MAGALHÃES, Tânia G. Artigo. Por uma pedagogia oral. Artigo publicado no Colégio de aplicação UFJF. Londrina, 2008. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/signum/article/view/3053/4671> Acesso em: 09 abr. 2013.
MATEUS, Ana do Nascimento Biluca. A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA COMO PRÁTICA EDUCATIVA NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Minas Gerais: PUC, S/D.

MATTOS , Bruna daniella souza. A LITERATURA INFANTIL CONTEMPORÂNEA E A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS. Londrina:Universidade federal de Londrina,  2009.
OSIAS, Juliane P. de Araújo. Os gêneros orais como objeto de ensino. Revista eletrônica Temática. Local: editora, 2010. Peridiocidade. Disponível em: <http://www.insite.pro.br/2010.html>. Acesso em: 05 fev. 2013.
PATRINI, Maria de Lourdes. A renovação do conto: emergência de uma prática oral. São Paulo: Cortez, 2005.

PINTO, Fernanda Chequer de A..A importância de contar histórias. Disponível em: < http://www.projetoamplitude.org/com-a-palavra-amplitude/a-importancia-de-contar-historias/> Acesso em 26 de Outubro de 2015.

 RATIER, Rodrigo, VERLI, Lorena. Oralidade: a fala que se ensina. Revista nova escola.  Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/fala-se-ensina-423559.shtml>. Acesso em: 21 mai. 2013.
SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2013.




[1] Acadêmica do 6º período do curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto de Ensino Superior Santo Antonio – INESA.

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