FREITAS, Ana Lúcia Souza de. Pedagogia
da conscientização: um legado de Paulo Freire à formação de professores. 3.
ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
Edna Pereira Barbosa e Murilo Inacio Dos Santos
PEDAGOGIA DA
CONSCIENTIZAÇÃO:
Um legado de Paulo freire à formação de professores.
A narrativa a seguir refere-se à
obra acima citada cujo enfoque é a Pedagogia da conscientização, fundamentada
na concepção de Paulo Freire, abordada no capítulo um.
Pressupõe-se que sejam contribuições
relevantes, devidamente elaboradas, abstraídas de um estudo especial
categorizado e metodológico à formação do corpo docente. Onde o cerne da
questão é a conscientização libertadora da pessoa humana.
O professor (Paulo
Freire, 1992, p. 174), reflete sua teoria e experiência vivenciada no contexto
escolar pedagógico, iniciando pela sua participação como secretário de educação
fundamentada numa política educacional a qual possuía como foco, a gestão
democrática da escola, da qual buscou aval à ampliação sua produção teórica,
não somente compreender os limítrofes, senão, a construção consistente de
possibilidades à educação libertadora no contexto escolar pedagógico público.
O desafio da
reinvenção da escola na década de 90, p.33
Na década de 90 as obras foram
atualizadas por conta de conceitos sistemáticos importantes. Os quais serviram
como referências para construir projetos políticos-pedagógicos libertadores que
se contrapunham às práticas individualistas-excludentes no âmbito escolar, que
serviam de alternativas ás referidas práticas. Especialmente no conglomerado
das obras da década de 90.
O cotejo destaca-se em torno da
necessidade de uma formação pedagógica consciente e permanente, capaz de
desafiar o caráter progressista que se opunha ao contexto neoliberal.
[...] ele foi, na verdade, mestre de todos nós E...] era um pensador,
mas também pedagogo, quer dizer, um homem que pensava a prática educativa
enquanto ato de conhecimento. [...1 Pode o corpo ter envelhecido [...] Mas a
cabeça dele não. [...1 morreu jovem. Ele jamais perdeu a paixão pelos seus
sonhos (Freire, in Fiori, 1991 a, p. 287).
Freire consagra-se e fundamenta-se
exatamente pela grande monta de produção intelectual do período. Ele torna-se
um referencial fundamental à reconstrução da pedagogia.
Freire argumenta que: a alegria é de
suma importância, fundamentado na reflexão de Georges e Snyders. Assim, ele
considera que a alegria na escola fortalece e estimula a alegria de viver.
Ainda de acordo com o pensador, se o tempo da escola é um tempo enfadonho sob o
qual, o corpo docente, discente, vivem os segundos, os minutos e os quartos de
horas afim de que o tempo monótono termine, ávidos para libertar-se do ambiente
escolar pedagógico e que adentrem às alegrias da vida fora do ambiente escolar.
A tristeza da escola culmina por deteriorar a alegria de viver.
Ao prefaciar a obra de Snyders,
Paulo Freire reitera a relevância da alegria na escola, já que para ele, -
lutar pela alegria na escola é uma forma de lutar pela mudança do mundo(p.10). “Não
pode ser alegre uma escola que conviva com a permanência do insucesso de muitos
alunos”.
A escola necessita está atenta à
valorização dos saberes construídos fora da escola.
A dupla cisão epistemológica procede
a um trabalho transformador tanto do senso comum, como da ciência. Ela também
sugere a superação da dicotomia entre conhecimento científico e senso comum, na
construção de um conhecimento libertador que transforma a ambos.
Todo conhecimento
científico tem seu ponto de partida no senso comum. (1997,p.55).
Freire nos dá seu
testemunho, e propõe novas possibilidades de relação com o conhecimento,
capazes de viabilizar um intenso processo de produção teórico-crítica a partir
de um cotejo permanente sobre o mundo vivido, concomitantemente contribui para
transformá-lo.
Não obstante a isso,
Freire enfatiza que a produção intelectual não possui um fim em si mesma,
entretanto, estabelece um vínculo dialético entre escrita e oralidade, entre
teoria e prática. Na qual a interação assume o caráter de fomentar o próprio
processo de escrita, orientando-o no sentido de novas vicissitudes.
Por conta disso, ele
argumenta em favor da necessidade da constituição de espaços coletivos à
formação escolar pedagógica, a fim de que se desenvolva práticas de observação,
registro, cotejo e discussão, na vivência e interação permanente tensional
entre teoria e prática. Como diz Sousa Santos (1998).
Como reflete Nogueira
(p.9) a escola de Freire tem uma marca de três grandes opções: a primeira, a de
que – Gente humana é processo e exige o trabalho interativo de autoconhecimento
(p.10); a segunda que – o mundo, a vida e as cidades – sendo humanas – são
mutáveis, elas são lugar epistemológico de transformação (p.11); e a terceira
diz respeito a uma determinada concepção de leitura. Na qual, ler é um
entendimento participativo. Ler é pronunciar a palavra é reconhecer-se dentro
do engendramento da realidade (p.13).
Como diz Freire, minha
biblioteca tem algo disso. Às vezes, é como se fosse a sombra da árvore
mangueira de minha infância (p. 16). Ele retoma a sua memória em alusão a saudosa
árvore, quando faz uma reflexão às sombras dessa árvore, comparando-a às
incalculáveis possibilidades de um excelente livro, no qual o aprendizado se dá
de acordo com a natureza política da educação aliada à historicidade no mundo
atual. Com isso ele defende uma premente necessidade de atualização da
educação, no contexto neoliberal de nossa atualidade.
Entretanto, em suas
dedicatórias, encontra-se algo marcante às demais obras literárias da década de
90, nas quais demarcam sua reflexão em torno da relevância da subjetividade no
processo de construção do conhecimento. (p.50).
Freire nos desafia à
leitura e à escrita enquanto processos indicotomizáveis de pensar a existência,
nos incita em fazer com que as experiências vividas constituam-se em fonte de
cotejo teórico. (p.51).
A consciência revisada
Outrora no Brasil, nas décadas de 60
e 70, o vocábulo conscientização era algo perigoso e por vezes fatal para
outrem. Todavia, não deixava de ser uma palavra mágica, não obstante ela seja
passível de ser deturpada em seu verdadeiro propósito. Embora que seu poder possa
causar dissenso na sociedade dentro e fora do país seja enorme. Naquele
contexto social, conscientização aludia ao resgate da dignidade da pessoa humana.
Pressupõe-se que, quem não dispõe da verdadeira consciência é supostamente um
escravo social.
Nesse sentido, o livro de Ana Lúcia
aponta como salvo-conduto à reconstrução da conscientização de maneira bastante
pedagógica.
A autora reflete a conscientização
como sendo um substantivo de conotação global e sintetizada a qual compreende
três dimensões, a saber: a política, a epistemológica e a estética, essa
tríade, de acordo com a autora representa três sub-dimensões, o da esperança,
da curiosidade epistemológica e o da alegria, tais dimensões devem estar
imbricadas à formação pedagógica do professor(a), e do educador(a).
À tríade conceitual, a autora
entende que tem de existir: a criticidade, a curiosidade e a criatividade, como
dispositivos de releitura da conscientização, não como simples abstrações,
porém, como prática formativa e efetiva dos professores(as) nos ambientes
escolares pedagógicos.
A autora refere-se a obra Pedagogia
da Indignação, editada por: Ana Maria Freire, a qual versa sobre a relevância
dos temas: ética e estética, onde retratam sobre os desafios à epistemologia em
alusão ao desenvolvimento tecnológico, entre outros. “Nesse processo, a
indignação, que se funda na certeza da natureza política da prática pedagógica,
mobilizou-me à recriação do modo de lutar contra a dificuldade inerente às
práticas que buscam romper o imobilismo”. (Freitas, p.17).
Essa obra
sugere uma crítica ao caráter excludente, classificatório e elitista do
ambiente escolar, principalmente o da rede Municipal de Ensino. Desse modo,
aponta as necessidades de transformação das práticas pedagógicas fundamentadas
em pressupostos inatistas e empiristas, em função de uma postura interacionista
e reflexiva do professor (a).
A educação é, simultaneamente, uma determinada teoria do conhecimento
posta em prática, um ato político e um ato estético, e que a constituição da
práxis educativa libertadora, em que se vivenciam simultaneamente estas três
dimensões do ato pedagógico, constitui-se no processo de conscientização. (Freire,1986,
p.18).
Nessa circunstância, a
conscientização, além e aquém de sua finalidade da prática educativa
libertadora do ser humano, a qual justifica-se por si mesma, uma vez que deve
ser compreendida como metodologia propedêutica. Em favor da reinvenção da
atuação de todo corpo gestor- funcional e pedagógico no contexto escolar. Subordinada
à observância da comunidade de seu entorno, para a fruição do aprendizado do
aluno(a). Pressupõe-se que a práxis escolar pedagógica, deva ser focada no
verdadeiro, eficaz, efetivo e afetivo aprendizado do aluno(a).
Estima-se que o professor(a), nunca
deva fazer de conta que se explica. A aula deve ser explicada de maneira
efusiva e peremptória aos alunos(as). Presume-se que seja a obrigação da escola
ensinar os alunos a leitura integral e libertadora. Destarte, que a leitura é
um dos subconjunto do conjunto universo Educação.