domingo, 3 de abril de 2016

FREITAS, Ana Lúcia Souza de. Pedagogia da conscientização: um legado de Paulo Freire à formação de professores. 3. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.



                                              Edna Pereira Barbosa e Murilo Inacio Dos Santos[1]

PEDAGOGIA DA CONSCIENTIZAÇÃO:
Um legado de Paulo freire à formação de professores.

            A narrativa a seguir refere-se à obra acima citada cujo enfoque é a Pedagogia da conscientização, fundamentada na concepção de Paulo Freire, abordada no capítulo um.
 Pressupõe-se que sejam contribuições relevantes, devidamente elaboradas, abstraídas de um estudo especial categorizado e metodológico à formação do corpo docente. Onde o cerne da questão é a conscientização libertadora da pessoa humana.

O professor (Paulo Freire, 1992, p. 174), reflete sua teoria e experiência vivenciada no contexto escolar pedagógico, iniciando pela sua participação como secretário de educação fundamentada numa política educacional a qual possuía como foco, a gestão democrática da escola, da qual buscou aval à ampliação sua produção teórica, não somente compreender os limítrofes, senão, a construção consistente de possibilidades à educação libertadora no contexto escolar pedagógico público.

O desafio da reinvenção da escola na década de 90, p.33

            Na década de 90 as obras foram atualizadas por conta de conceitos sistemáticos importantes. Os quais serviram como referências para construir projetos políticos-pedagógicos libertadores que se contrapunham às práticas individualistas-excludentes no âmbito escolar, que serviam de alternativas ás referidas práticas. Especialmente no conglomerado das obras da década de 90.
            O cotejo destaca-se em torno da necessidade de uma formação pedagógica consciente e permanente, capaz de desafiar o caráter progressista que se opunha ao contexto neoliberal.

[...] ele foi, na verdade, mestre de todos nós E...] era um pensador, mas também pedagogo, quer dizer, um homem que pensava a prática educativa enquanto ato de conhecimento. [...1 Pode o corpo ter envelhecido [...] Mas a cabeça dele não. [...1 morreu jovem. Ele jamais perdeu a paixão pelos seus sonhos (Freire, in Fiori, 1991 a, p. 287).

Freire consagra-se e fundamenta-se exatamente pela grande monta de produção intelectual do período. Ele torna-se um referencial fundamental à reconstrução da pedagogia.



            Freire argumenta que: a alegria é de suma importância, fundamentado na reflexão de Georges e Snyders. Assim, ele considera que a alegria na escola fortalece e estimula a alegria de viver. Ainda de acordo com o pensador, se o tempo da escola é um tempo enfadonho sob o qual, o corpo docente, discente, vivem os segundos, os minutos e os quartos de horas afim de que o tempo monótono termine, ávidos para libertar-se do ambiente escolar pedagógico e que adentrem às alegrias da vida fora do ambiente escolar. A tristeza da escola culmina por deteriorar a alegria de viver.
           
            Ao prefaciar a obra de Snyders, Paulo Freire reitera a relevância da alegria na escola, já que para ele, - lutar pela alegria na escola é uma forma de lutar pela mudança do mundo(p.10). “Não pode ser alegre uma escola que conviva com a permanência do insucesso de muitos alunos”.
            A escola necessita está atenta à valorização dos saberes construídos fora da escola.

            A dupla cisão epistemológica procede a um trabalho transformador tanto do senso comum, como da ciência. Ela também sugere a superação da dicotomia entre conhecimento científico e senso comum, na construção de um conhecimento libertador que transforma a ambos.
            Todo conhecimento científico tem seu ponto de partida no senso comum. (1997,p.55).

            Freire nos dá seu testemunho, e propõe novas possibilidades de relação com o conhecimento, capazes de viabilizar um intenso processo de produção teórico-crítica a partir de um cotejo permanente sobre o mundo vivido, concomitantemente contribui para transformá-lo.

            Não obstante a isso, Freire enfatiza que a produção intelectual não possui um fim em si mesma, entretanto, estabelece um vínculo dialético entre escrita e oralidade, entre teoria e prática. Na qual a interação assume o caráter de fomentar o próprio processo de escrita, orientando-o no sentido de novas vicissitudes.

            Por conta disso, ele argumenta em favor da necessidade da constituição de espaços coletivos à formação escolar pedagógica, a fim de que se desenvolva práticas de observação, registro, cotejo e discussão, na vivência e interação permanente tensional entre teoria e prática. Como diz Sousa Santos (1998).

            Como reflete Nogueira (p.9) a escola de Freire tem uma marca de três grandes opções: a primeira, a de que – Gente humana é processo e exige o trabalho interativo de autoconhecimento (p.10); a segunda que – o mundo, a vida e as cidades – sendo humanas – são mutáveis, elas são lugar epistemológico de transformação (p.11); e a terceira diz respeito a uma determinada concepção de leitura. Na qual, ler é um entendimento participativo. Ler é pronunciar a palavra é reconhecer-se dentro do engendramento da realidade (p.13).

            Como diz Freire, minha biblioteca tem algo disso. Às vezes, é como se fosse a sombra da árvore mangueira de minha infância (p. 16). Ele retoma a sua memória em alusão a saudosa árvore, quando faz uma reflexão às sombras dessa árvore, comparando-a às incalculáveis possibilidades de um excelente livro, no qual o aprendizado se dá de acordo com a natureza política da educação aliada à historicidade no mundo atual. Com isso ele defende uma premente necessidade de atualização da educação, no contexto neoliberal de nossa atualidade.

            Entretanto, em suas dedicatórias, encontra-se algo marcante às demais obras literárias da década de 90, nas quais demarcam sua reflexão em torno da relevância da subjetividade no processo de construção do conhecimento. (p.50).

            Freire nos desafia à leitura e à escrita enquanto processos indicotomizáveis de pensar a existência, nos incita em fazer com que as experiências vividas constituam-se em fonte de cotejo teórico. (p.51).

A consciência revisada
           
            Outrora no Brasil, nas décadas de 60 e 70, o vocábulo conscientização era algo perigoso e por vezes fatal para outrem. Todavia, não deixava de ser uma palavra mágica, não obstante ela seja passível de ser deturpada em seu verdadeiro propósito. Embora que seu poder possa causar dissenso na sociedade dentro e fora do país seja enorme. Naquele contexto social, conscientização aludia ao resgate da dignidade da pessoa humana. Pressupõe-se que, quem não dispõe da verdadeira consciência é supostamente um escravo social.

            Nesse sentido, o livro de Ana Lúcia aponta como salvo-conduto à reconstrução da conscientização de maneira bastante pedagógica.
            A autora reflete a conscientização como sendo um substantivo de conotação global e sintetizada a qual compreende três dimensões, a saber: a política, a epistemológica e a estética, essa tríade, de acordo com a autora representa três sub-dimensões, o da esperança, da curiosidade epistemológica e o da alegria, tais dimensões devem estar imbricadas à formação pedagógica do professor(a), e do educador(a).

            À tríade conceitual, a autora entende que tem de existir: a criticidade, a curiosidade e a criatividade, como dispositivos de releitura da conscientização, não como simples abstrações, porém, como prática formativa e efetiva dos professores(as) nos ambientes escolares pedagógicos.

            A autora refere-se a obra Pedagogia da Indignação, editada por: Ana Maria Freire, a qual versa sobre a relevância dos temas: ética e estética, onde retratam sobre os desafios à epistemologia em alusão ao desenvolvimento tecnológico, entre outros. “Nesse processo, a indignação, que se funda na certeza da natureza política da prática pedagógica, mobilizou-me à recriação do modo de lutar contra a dificuldade inerente às práticas que buscam romper o imobilismo”. (Freitas, p.17).

            Essa obra sugere uma crítica ao caráter excludente, classificatório e elitista do ambiente escolar, principalmente o da rede Municipal de Ensino. Desse modo, aponta as necessidades de transformação das práticas pedagógicas fundamentadas em pressupostos inatistas e empiristas, em função de uma postura interacionista e reflexiva do professor (a).

A educação é, simultaneamente, uma determinada teoria do conhecimento posta em prática, um ato político e um ato estético, e que a constituição da práxis educativa libertadora, em que se vivenciam simultaneamente estas três dimensões do ato pedagógico, constitui-se no processo de conscientização. (Freire,1986, p.18).


            Nessa circunstância, a conscientização, além e aquém de sua finalidade da prática educativa libertadora do ser humano, a qual justifica-se por si mesma, uma vez que deve ser compreendida como metodologia propedêutica. Em favor da reinvenção da atuação de todo corpo gestor- funcional e pedagógico no contexto escolar. Subordinada à observância da comunidade de seu entorno, para a fruição do aprendizado do aluno(a). Pressupõe-se que a práxis escolar pedagógica, deva ser focada no verdadeiro, eficaz, efetivo e afetivo aprendizado do aluno(a).
            Estima-se que o professor(a), nunca deva fazer de conta que se explica. A aula deve ser explicada de maneira efusiva e peremptória aos alunos(as). Presume-se que seja a obrigação da escola ensinar os alunos a leitura integral e libertadora. Destarte, que a leitura é um dos subconjunto do conjunto universo Educação.




        







[1] Acadêmicos do Curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto de Ensino Superior Santo Antônio –INESA – Joinville – SC.

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