A
INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA ALFABETIZAÇÃO
Carolina
Pereira Dias de Albuquerque[1]
Resumo
O
presente artigo busca analisar o uso da linguagem oral de maneira influente na
alfabetização. Tendo em vista que a linguagem é algo individual e formada a partir do meio social, compreendemos algumas
dificuldades na relação entre a oralidade e a aquisição da escrita. O aluno
deve ser visto como ser único, dentro de sua construção social, é nisso que
temos o uso da língua como relevante no processo de ensino aprendizagem.
Objetiva-se demonstrar as práticas de alfabetização, levando em conta o uso da
oralidade em seu desenvolvimento. Apresenta as diferenças entre língua e
linguagem, abordando algumas dificuldades da mesma em seu desdobramento.
Salienta ainda a participação da família e escola nesse processo de transição
para o aprendizado. São abordados exemplos de práticas que levam a um bom
resultado quando se tem a oralidade como aliada dentro das etapas da
alfabetização. Assim, do ponto de vista da linguagem, se assume o pressuposto
que a alfabetização deve percorrer sobre elementos significativos para ela,
onde a linguagem oral se torna fundamental.
Palavras-chave: Oralidade,
linguagem, escola, alfabetização, dificuldade.
1 INTRODUÇÃO
Compreendendo a importância da linguagem oral
como meio social, objetiva-se demonstrar as dificuldades que permeiam o caminho
entre a fala e a escrita. O conhecimento e a aprendizagem nunca foram tão
valorizados como atualmente, portanto, seus meios de aquisição estão exigindo
um repensar sobre seus processos educacionais.
A linguagem oral tem valiosa
influência no decorrer de toda vida escolar da criança, assim, dificuldades no aprendizado
proveniente de problemas de fala devem ser logo identificados pela escola. A
interação entre a escola e a família é de grande significância no intuito de
auxiliar o aluno nas suas dificuldades de fala e expressão oral, pois quando
essa é identificada o processo de flui consideravelmente.
O aluno traz consigo uma
bagagem única, e dentro dela suas riquezas culturais como também suas
dificuldades, as quais devem ser bem trabalhadas pelo professor. Cada vez mais
se fala tem ter o aluno como autor no cenário da aprendizagem, deste modo, não
pode-se deixar de valorizar a sua cultura, seu conhecimento de mundo.
A preocupação com o
conhecimento integral do aluno leva-nos a ressaltar a oralidade como ferramenta
fundamental na formação de indivíduos ativos, pensantes, progressista. Para que
se chegue a esse objetivo é importante ter um planejamento que envolva toda a
turma em um aprendizado humanizado trazendo a linguagem oral como instrumento
valioso no saber.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1
LINGUAGEM: A FALA DENTRO DA CONSTRUÇÃO SOCIAL
Temos por conceito de
linguagem segundo o dicionário Aurélio,Ferreira (2004, p.582) “expressão do
pensamento pela palavra escrita, ou por meio de sinais.” entende-se que a
linguagem é a forma diversificada de como expressamos nosso pensamento. A
língua ou fala, é a forma mais utilizada nessa expressão, sendo naturalmente influenciada
pelo meio em que vivemos.
Conforme Coelho & José (1990), percebemos
a linguagem muito antes do surgimento da fala, pois a criança ainda muito
pequena comunica-se através de gestos, mímicas. Ainda antes da aquisição da
fala, ela compreende muitas palavras, mesmo sem poder articulá-las. Então
quando a criança começa a se utilizar da fala esta adquirindo uma ferramenta de
grande valor, imprescindível a sua integração social.
A linguagem oral é o instrumento que propicia a interação
entre os indivíduos, assim ela pertence a todos os membros de uma comunidade;
um único membro não é capaz de modifica-la, ela evolui pelo meio social, político,
tecnológico e histórico das gerações através de seus usos e costumes.
Percebendo assim sua importância (John B. Carrol apud Coelho & José,1990, p. 35)
cita:
A função da linguagem
na comunicação interpessoal é transmitir informação, pensamento e sentimento de
uma pessoa para outra e fornecer os meios para que as pessoas controlem o
comportamento umas das outras.
Assim podemos perceber a
importância de um bom desenvolvimento da linguagem oral que quando não ocorre
pode provocar problemas em relação ao meio em que se vive e também no decorrer
da alfabetização.
A oralidade continua
na moda. Parece que hoje redescobrimos que somos seres eminentemente orais,
mesmo em culturas tidas com amplamente alfabetizada. É, no entanto, bastante
interessante discutir melhor sobre o lugar da oralidade hoje,seja nos contextos
de uso da vida diária ou nos contextos da vida escolar. MARCUSCHI (1997,p.125 )
A linguagem deve ser
promovida a fim de que a criança possa usá-la de
forma cultural e social, expressando seus pensamentos, decodificando o mundo,
trazendo-o para a sua realidade com fins de transformação do seu próprio meio.
2.2 DIFICULDADES NA COMUNICAÇÃO ORAL E SUA
INFLUÊNCIA NA ALFABETIZAÇÃO.
Percebe-se que muitas
crianças demonstram dificuldades na sua expressão oral, que pode advir de
diversas hipóteses. Contudo, então quando o período de alfabetização é iniciado
deve-se levar em conta esses fatores e o professor deve estar atento, tomando
conhecimento dos principais problemas que o aluno pode demonstrar no desenvolvimento
de sua oralidade. Nesse sentido abordaremos alguns desses motivos:
Transtorno fonológico
·
Ocorre um atraso na aquisição dos
sons/fonemas da língua ou aquisição desviante.
·
Produção atípica dos sons da fala, omissões,
substituições ou adições.
·
Histórico familiar.
Gagueira de desenvolvimento
·
Surgimento entre 2 e 3 anos.
·
Caracterizado por rupturas (disfluências) na
fala, como repetições de sons e sílabas, bloqueios e prolongamentos.
·
Movimentos associados.
·
Histórico familiar.
Alteração no desenvolvimento da linguagem oral
·
Sem causa aparente.
·
Podem-se observar atraso ou distúrbio no
desenvolvimento da linguagem.
·
A
alteração pode ser na expressão e/ou recepção da linguagem.
·
Caracteriza-se por vocabulário pobre,
dificuldade na combinação de palavras para formar frases, uso inadequado da
linguagem, sintaxe pouco estruturada, dificuldade de compreensão, alterações
gramaticais, fala ininteligível, dificuldade com conceitos abstratos e
figurativos.
·
Histórico familiar para alteração no
desenvolvimento da linguagem oral e/ou escrita.
·
Excluem-se perda auditiva, impedimentos no
desenvolvimento cognitivo e no desenvolvimento motor da fala, distúrbios
socioemocionais, sintomatologia neurológica manifestada.
Alteração no desenvolvimento da
linguagem escrita
·
Pode estar relacionada à alteração no
desenvolvimento da linguagem ou ao transtorno fonológico.
·
Pode
representar atraso no desenvolvimento ou distúrbio.
·
Caracteriza-se por alteração na escrita de
palavras, dificuldades na elaboração e compreensão escrita.
·
Alteração neurofisiológica.
·
Observam-se falha no processamento fonológico
(memória operacional, consciência fonológica e acesso rápido às representações
no léxico).
·
Pode
estar associada à alteração no processamento visual e auditivo e ao transtorno do
déficit de atenção e hiperatividade. - Inclui dislexia, disgrafia,
disortografia e distúrbios de leitura e escrita.
·
Histórico familiar para alteração no
desenvolvimento da linguagem oral e/ou escrita. (MARTINS & PRATES, 2011, p.
58)
Quando o professor consegue
observar essas dificuldades em seus alunos, ele tem a autonomia para buscar
ajuda para o mesmo e também de se preparar pra auxiliá-lo.
Levar o aluno a
pensar e buscar informações para o seu desenvolvimento educacional, cultural e
pessoal é uma das tarefas primordiais e básicas da educação. Para tanto é
primordial que se leve em consideração as dificuldades de aprendizagem, não
como fracassos, mas como desafios e serem enfrentados, e ao se trabalhar essas
dificuldades, trabalha-se respectivamente a dificuldades existentes na vida,
dando- lhes a oportunidade de ser independente e de reconstruir-se enquanto ser
humano e indivíduo. (AMARAL, 2011, apud COUTO,
FRANÇA & SILVA,2012, p.18).
Essa dificuldade vem influenciar diretamente na
alfabetização e cada vez mais os professores estão deparan-se com situações,
problemas na aprendizagem em relação a linguagem oral. Um problema de linguagem
pode ser verificado em uma criança quando o mesmo interfere na sua comunicação,
deixando a mesma tímida e insegura ao falar. Conforme Coelho & José (1990) deve-se
ter cuidado para não confundir uma pobreza no vocabulário, deficiência de
pronúncia com verdadeiro distúrbio de linguagem, pois a criança ainda esta em
desenvolvimento mental, social e físico.
2.3
O PAPEL DO PROFESSOR NA INTEGRAÇÃO DA LINGUAGEM ORAL COM A ESCRITA
A criança se apropria primeiramente da fala
para posteriormente se alfabetizar, então a diferença existente entre ambas
deve ser bem trabalhada para que facilite o processo de transição. Para Coelho
& José (1990), a alfabetização só pode ser iniciada quando a criança é
capaz de pronunciar todos os sons da língua e as que não têm um bom repertório
verbal podem apresentar problemas na compreensão dos textos.
Segundo Zellacoração (2009)
a fala e a escrita se diferem, onde a escrita não é meramente uma reprodução da
fala. Assim para a criança em processo escolar essa diferença é muito
intrigante, por isso, deixar esclarecido pra ela quais são essas diferenças é
algo indispensável desde o inicio.
ROMANO ( 2011 ) traz que:
A
língua falada é mais livre, podemos utilizá-la com mais liberdade, sendo mais
espontânea. A língua escrita evita a improvisação, sendo necessário o uso de
letras e sinais de pontuação, sempre seguindo regras ortográficas e
gramaticais.
As regras gramaticais que o
professor irá passar para o aluno no momento da alfabetização é que vai trazer
aos poucos essa integração entre a oralidade e a escrita. Ai então se inicia o
processo onde família e escola devem estar junta para que ocorra da melhor
forma possível.
Um dos grandes desafios para
um professor alfabetizador é trabalhar com alunos que apresentam dificuldades
de aprendizado. Se referindo ao aluno, Lacerda & Machado (2009, p.2) comentam
que:
Ele é um membro da sociedade como qualquer outro sujeito,
tendo caracteres de atividade, sociabilidade, historicidade, praticidade”.
Partindo desse olhar individual, é que o professor tem que desenvolver sua
práxis, atendendo cada sujeito em sua singularidade, interagindo com o aluno,
tentando suprir suas dificuldades na aprendizagem.
Diante desse conceito de que
o aluno é membro da sociedade, deve fazer parte do trabalho docente vê-lo dessa
maneira, conhecer também sua história e família, sendo que assim muitas
questões referentes a ele serão esclarecidas. Segundo Coelho & José (1990)
o aprendizado da fala na criança é natural, vem do meio regional em que vive, e
essa fala deve ser trabalhada pelo professor através de atividades pedagógicas
que possam desenvolver sua leitura e escrita.
Quando se fala em trabalhar
a linguagem oral não se pode pensar em corrigir “erros” nas falas tradicionais
das crianças, mas utilizar-se dela pra uma prática mais significativa dentro da
alfabetização. Conforme o PCN (1997) para uma criança expressar-se oralmente
ela necessita de um ambiente que lhe traga confiança, que respeite o seu modo
de falar e o seu direito de fala, que valorize a sua diferença. Assim, o
professor precisa produzir na criança uma autoconfiança, demonstrando seu interesse
pelo mesmo, encorajando–o a desenvolver atividades propostas, dando-lhe apoio,
reconhecendo-o sempre que merecer.
Se utilizar de atividades
que promovam o uso da linguagem oral é uma prática indispensável, nessa
perspectiva Leal (1987, p.22) diz que, “Deve-se trabalhar as suas formas de
representação, buscadas bem no fundo do seu ser. Deve-se trabalhar as suas
linguagens”. O aluno se expressa, na maioria do tempo, através da linguagem
oral é assim que ele consegue expor seus sentimentos mais sinceros, sentimentos
esse que devem ser conhecidos por seu professor. A sensibilidade que o
professor deve ter durante o seu planejamento pedagógico precisa abranger todos
os seus alunos, onde, aqueles que têm dificuldades maiores no uso da linguagem
oral merecem participar ativamente de toda proposta.
O trabalho em sala de aula
pode ser feito de várias maneiras, inicialmente pode-se realizar rodas de
conversas, sobre variados assuntos. Com alunos de segundo ano, por exemplo,
pode-se trabalhar também a autobiografia, onde cada um deve pesquisar e
apresentar sua própria história para a turma. Exercícios como esses levaram o
aluno a desenvolver a oralidade, ter mais confiança demonstrando assim suas
fragilidades nesta linguagem.
Eleger a língua oral como conteúdo escolar
exige o planejamento da ação pedagógica de forma a garantir, na sala de aula,
atividades sistemáticas de fala, escuta e reflexão sobre a língua. São essas
situações que podem se converter em boas situações de aprendizagem sobre os
usos e formas da linguagem oral: atividades de produção e interpretação de uma
ampla variedade de textos orais.reflexão sobre os recursos que a língua oferece
para alcançar diferentes finalidades comunicativas. PCN ( 2002, p. 49)
Priorizar o atendimento
pedagógico global e humanitário a fim de desenvolver a linguagem oral, será de
extrema importância no desenvolvimento da alfabetização. A dinâmica do
professor deve ser voltada para a reflexão, envolvendo todos os alunos a fim de
promover diversas situações de aprendizagem.
3
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando a criança inicia sua
vida escolar ela traz consigo o domínio de uma fala peculiar desenvolvida em
seu meio familiar e social. Observou-se assim que cabe a escola trazer a
oralidade para o campo de aprendizagem, deixando de lado o preconceito e
envolvendo todos nesse processo.
As dificuldades de fala do
aluno devem ser identificadas pelo professor, pois quando esses impedimentos
são resolvidos há maior facilidade no relacionamento, propiciando um melhor aprendizado.
Vimos assim a família como ferramenta ajustada no envolvimento de todo
andamento educacional.
A proveniência do uso da
oralidade na sala de aula mostrou-se como contribuinte eficaz e instigante no
que diz respeito à influência dentro do encadeamento que envolve a alfabetização.
Deste modo notou-se que tanto os docentes como os discentes, deveram de maneira
primordial atuar na construção do conhecimento dentro da escola.
Compreender o uso da
oralidade como ferramenta de interação, abri caminhos para novas reflexões,
fazendo com que possamos propiciar aos alunos sucesso na sua busca futura por
um melhor espaço na sociedade.
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2009. Disponível em: https://zellacoracao.wordpress.com/2009/08/19/diferencas-entre-oralidade-e-escrita/.
Acesso em: 23 out 2015.
[1]Acadêmica
da sexto período do curso de Licenciatura em Pedagogia pela Instituição de
Ensino Superior Santo Antônio – INESA.
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