quarta-feira, 9 de março de 2016

A LEITURA ERUDITA, UM RARO PRAZER PARA POUCOS ALUNOS
                                                                                      
                                                                 Murilo Inacio Dos Santos[1]                                                                              


RESUMO


O foco deste artigo é demonstrar a excelência do prazer do ato de ler. Mormente, conscientizar os alunos em sala de aula e fora dela à tênue relação com o processo de aprender a ler corretamente.
Fundamentada nas teorias de Bakhtin e Vygotsky, o cotejo desta importante tarefa e sua pertinência para ressaltar o resultado positivo que a define através da aquisição da leitura sob a forma de letramento e não apenas, mera alfabetização. A apropriação do letramento funciona como defesa e salvo- conduto, capaz de promover a autonomia do sujeito(aluno/a). A priori, deve-se considerar os aspectos socioculturais que o circundam dentro e fora do contexto escolar.Reconhecer a função da escola e do professor(a) como mediadores imprescindíveis nesse processo, cuja responsabilidade é evitar o fracasso escolar do aluno(a). Por conseguinte, o referido fiasco no aprendizado escolar, torna o aluno(a) vulnerável a toda sorte de intempéries e escassez relativa à leitura erudita.


Palavras-chave: Gêneros, Leitura, ensino-Aprendizagem, Função da Escola


1. INTRODUÇÃO

            Pressupõe-se que o ensino efetivo da língua portuguesa com efeito à educação em geral, deva buscar novos modelos, no que tange ao exercício da leitura.
            Entretanto, admite-se que por vezes alguns professores(as) durante suas práxis em sala de aula, demonstram dificuldades para explicar e fazerem uso dos diferentes gêneros textuais. É notável que um desses motivos é a contumácia da cultura escolar que enfatizar a teoria, em detrimento à prática. Persiste quanto ao porquê das coisas, e despreza o como fazê-las.  

            Essa ausência de didática aplicável à prática dodiscente em favor do exercício de como fazer, sobretudo, o porquê, e para que fazer, causa angústia e desapontamento aos docentes. Uma situação paradoxal, na qual surge os conflitos de interesses, em detrimento ao alunado, os quais por vezes realizam o exercício da leitura deficitariamente, ou seja, não entendem, não interpretam, tampouco   fazem abstrações da leitura.

            Outrossim, no que alude à metodologia recorrente, a qual utiliza como pretexto o uso da gramática normativa como principal dispositivo para os conteúdos de aprendizagem, tal método relega aos alunos a verdadeira aquisição do aprendizado e da formação. Dessa maneira, a importância da linguagem perde seus legítimos sentidos à fruição do sujeito(aluno), para que a partir da leitura, o aluno possa adquirir consciência e criticidade a respeito de si mesmo, e de seu entorno e do mundo, através da leitura. Por essas razões, esse artigo objetiva demonstrar a relevância do gênero leitura em favor do aluno no âmbito escolar. Mormente, na fase do ensino fundamental e médio.

            Visto que, o ensino da Língua Portuguesa não deve desvincular-se do contexto sócio-histórico do aluno.
           
            Pressupõe-se que em despeito ao desenvolvimento do aprendente, a cultura escolar, por vezes enfoca as regras gramaticais. Dessa maneira, evidencia-se um certo prejuízo. Quando a incumbência premente da escola é conquistar e preparar o aluno ao universo da leitura. Não deixando estanques as interações referente à adversidade textual e contextual que existe fora da escola, a qual serve como referencial somado ao abundante repertório, o qual deve ser adotado como suporte às atividades pedagógicas dentro do âmbito escolar.

                                      Diminuem-se os leitores fortes (extensivos ou intensivos) enquanto aumentam os leitores fracos ou precários, que face aos “livros de adultos”, sentem-se que perdem tempo, mantêm imóveis o corpo, “como uma forma de morte”. (Goazou in CANCLINI, 2006, p.58).

            Atrair os alunos ao universo da leitura, pressupõe uma tarefa difícil, visto que a escola não reproduz textualmente os temas sociais textuais que a circundam, nem, além e aquém dela. Ademais, os gêneros abordados na escola, comumente são advindos dos livros didáticos, os quais nem sempre contemplam e nem promovem o cotejo por parte do aluno. Logo, não o desperta acerca da natureza discursiva da linguagem da leitura.

            Face a tudo isso, as atividades pedagógicas tornam-se artificiais à evidência de questões gramaticais redundantes e desinteressantes, às quais os alunos veem-se frustrados, sobretudo, quanto a ementa pedagógica e à escola.
                                     
            Assim, é mister que os professores auxiliem seus alunos(as) para que estabeleçam vínculo efetivo e afetivo entre a verdadeira funcionalidade da linguagem da leitura em seu cotidiano, e dela inferir bons resultados. Não obstante a isso, o processo de desenvolvimento dos alunos não está restrito apenas à sala de aula.


2 . FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


2.1 A DEFINIÇÃO DE LEITURA


            A leitura é uma atividade dependente da escrita. Pode-se dizer que: a leitura é função da escrita, assim, quem escreve deve sobremaneira, saber ler, e fazer-se entender. A leitura é uma habilidade que precede a escrita.
            Além de portar um valor técnico à alfabetização, a leitura é ainda uma fonte de prazer. Para isso, a leitura deve desvelar as características fonéticas da fala portuguesa.

                                      A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo que sabe sobre a língua: características do gênero, do portador, do sistema de escrita, dentre outros. Não se trata simplesmente de extrair informação da escrita, decodificando-a letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica, necessariamente, compreensão na qual os sentidos começam a ser construídos antes da leitura propriamente dita. (PCN, 1997, p. 36 ou 53).

            Destarte, qualquer pessoa erudita, comprovará que ler, perpassa o processo de decodificação das letras. Uma leitura fluente requer algumas habilidades do leitor, a saber: seleção, antecipação, inferência e verificação. Senão, o ato da leitura perfeita, tornar-se-á impraticável. É através desses dispositivos aplicáveis à leitura, que o aluno(leitor), deleita-se no prazer em descobrir os interditos encrustados na leitura, onde infere do texto as comprovações de seus pressupostos.



2.2 A LEITURA E A ESCOLA

            Por força da cultura, a escola privilegia a escrita em detrimento à leitura, embora esse espaço escolar, esteja ciente de que leitura e escrita caminham em paralelo.
            O privilégio da escrita sobre a leitura na escola se deve a essa maior facilidade de avaliação escolar excludente. No mundo em que vivemos, é muito mais importante ler do que escrever. Nem sempre as pessoas alfabetizadas não escrevem, todavia, leem. Como enfatiza Cagliari (2007p.172) “Na escola a leitura serve não apenas para se aprender a ler, como para aprender outras coisas, lendo”. Vê-se portanto que a escola desdenha o processo e a ação efetiva da leitura em sala de aula.

2.3 LEITURA E CULTURA

            Eis aqui, uma polêmica temática, inicialmente, há um impasse entre a leitura e a cultura. Entretanto, é a cultura que corrobora com a leitura em seu sentido amplo.
            Daí, será menos proveitoso conhecer qualquer gênero cultural, sem que não seja através da leitura desta. Vale lembrar que a leitura varia de acordo com o gênero textual. Cagliari (2007, p.174) “A escola deve acompanhar a evolução do mundo, mas, ela é também uma guardiã da tradição”.

2.4 O MANUAL DE INSTRUÇÃO SOB A ÓTICA DA ESCOLA
                                     
            O motor propulsor à realização dessa temática, e a razão principal de seu desenvolvimento, é reconhecer a suma importância do domínio da leitura prévia e a interpretação do gênero, manual de instruções em benefício do processo de aperfeiçoamento quanto às técnicas de manuseio, reparo e montagem de equipamentos, às quais depende do domínio do entendimento e de suas recomendações.

                                      A atividade árida e tortuosa de decifração de palavras que é chamada de leitura em sala de aula, não tem nada a ver com a atividade prazerosa descrita por Bellenger. E, de fato, não é leitura, por mais que esteja legitimada pela tradição escolar. De acordo com Bellenger (2013, apud KLEIMAN).
           
            O manual de instruções, depende do público alvo ao qual se destina e, pode apresentar-se simples, ou complexo.

            Percebe-se que o manual de instrução pertence ao gênero informativo orientador e a falta de observância demonstra não conformidade.

            Embora, esse recurso possua às vezes contexto definido e requeira pessoal qualificado em função de sua linguagem e termos técnicos específicos, não à toa, vermos tais livretos serem lidos interpretados e manuseados por pessoal descontextualizado e adverso, principalmente sua utilização estendida à utilização de outros fins.

            Dada à sua linguagem simplificada por conta de legendas simples pictográficas, entre outras, e com o fito de facilitar a compreensão dum maior público consumidor, alguns incultos. Mormente, o consumidor doméstico.

            Por conta de falta de uma boa leitura, pode decorrer falhas nos equipamentos, incidentes, acidentes recorrentes às pessoas envolvidas na ação e adjacentes. “O ensino das estratégias de leitura ajuda o estudante a aplicar seu conhecimento prévio, a realizar inferências para interpretar o texto e a identificar e esclarecer o que não entende.” (SOLÉ,1992)

            Vê-se portanto, que por mais simples que seja qualquer gênero de literatura técnica, nesta se inclui o manual de instrução ou, outro de qualquer gênero afim, a leitura erudita, serve para nortear o operador, em direção a perfeita utilização. Disso depende uma prévia leitura compreensiva- reflexiva, e mediada por um professor ou qualquer outra pessoa devidamente qualificada. Como diz Solé (1992) “Afinal, são os docentes que de fato contribuem para a melhoria da aprendizagem da leitura.”

            Quando o manual de instrução é mais complexo e elaborado, face às funções a que a engenhoca se destina, o pessoal envolvido para realizar determinada tarefa técnica, deve ser extremamente qualificado e conscientizado quanto às prerrogativas de seguir à risca as orientações do fabricante do produto.

            Para que lhe seja salvaguardados direitos de defesa, em casos de falhas do equipamento por consequências de erros advindos do fabricante, ou de outrem. Em exemplo: a indústria aeronáutica e aeroespacial.

            Esse pressupostos justifica-se por si mesmo, uma vez que, tais procedimentos acima descritos, reforçam os princípios quanto a confiabilidade e legitimidade da tecnologia e da indústria moderna para soluções afins, sob o olhar da ética.

            Os gêneros textuais são infinitos, e sua presença no cotidiano escolar é constante. Assim sendo, é de suma importância que os professores(as) intervenham na ação efetiva da leitura reflexiva em sala de aula com seus alunos mesmo sem que eles não se apercebam disso. O manual de instrução, faz-se presente nos diversos contextos. Entretanto, é na sala de aula que alguns professores têm dificuldade de levar adiante a explanação desse gênero literário frente aos alunos. Por consequência de suas vicissitudes.

            O gênero instrucional é bastante utilizado em nossa sociedade, mormente, à sua aplicabilidade no âmbito diversificado. Por conta da finalidade a que se destina. O seu grau de complexidade varia em muito, no que requer do operador, melhor deprendimento, teórico e prático.
            Exemplo: quando necessita-se a instrução de como trocar a lâmpada da geladeira, até a complexa tarefa de substituir um motor de uma aeronave de grande porte, dentre outras tarefas correlatas técnicas pertinentes.

            O manual de instrução, pertence ao gênero literário secundário difere aos demais gêneros. O referido manual valoriza sobretudo a prática, não em detrimento à teoria, visto que é um gênero específico cuja finalidade é orientar, instruir, ordenar procedimentos e tarefas técnicas previamente testadas e definidas com respaldos do fabricante.

            Eis porque, sua linguagem é usualmente utilizada com o verbo no modo imperativo, no que remete à uma ação sugestiva, mandatória, não obrigatória.
Ademais, como se trata de um gênero que abrange o fazer e a responsabilidade técnica, à qual compromete a imagem do fabricante, o manual de instrução por vezes fica salvaguardado por leis específicas e pertinentes à área técnica, sobretudo, subordinada a um órgão governamental, em exemplo no Brasil, a ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas.

            Percebe-se que o gênero textual, manual de instrução, nem sempre se insere no campo da observação da maioria do alunado e, das pessoas em geral.          Haja vista que, se determinada pessoa não pertencer à classe técnica e, em seu cotidiano laboral costumeiro, ela não fizer uso de algum tipo de manual de instrução por força da profissão, ou até mesmo por exigência da empresa na qual ela trabalha, ou de alguma outra necessidade, dificilmente essa pessoa demonstrará maestria no manuseio de algum manual de instrução ou de qualquer outra literatura similar em proveito à interpretação do manual instrucional, em sua área de atuação profissional específica, ou fora dela. Principalmente se ela não for devidamente letrada.

            O manual de instrução, dependendo de sua especificidade e grau técnico avançado, diferencia-se dos demais por requerer do pessoal técnico, um repertório abundante de palavras, conexões interpretativas muito apropriadas à atividade laboral a que ele se predispõe em realizar com eficácia.

            Por conseguinte, para que o aluno adquira o perfeito hábito e o domínio necessário da ação de ler gêneros literais diversos, necessita ser orientado e contextualizado no ambiente da leitura. Para que consiga através de muito exercício da referida, discernir as diferenças e os procedimentos aplicáveis às tarefas de ler a si mesmo, tudo que está ao seu alcance e o mundo, composto de todas as suas armadilhas nefastas, ou, fruir de suas prerrogativas. Disso decorre a escuta perceptiva e mediada do professo(a). Haja vista que escutar também é ler.

            Os manuais de instrução possuem várias características, extensão e complexidade. São impressos na forma de folheto, ou pequeno livro, ou ainda em forma de vídeo e tutoriais. Variam de acordo com a complexidade do material a ser usado, mantido, desmontado ou montado.

São os gêneros e sua historicidade que ampliam o caráter local das interações, devido a sua variedade, enorme e praticamente inesgotável, porque a Possibilidade de atividades humanas seria inesgotável ―e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa (BAKHTIN, 1997, p. 279).

            Trata-se de um gênero cuja finalidade é instruir à tarefa de montagem de um determinado objeto, aparelho, brinquedo, dentre outros. Cumpre uma importante função social. Indicando o passo a passo de um processo de uso, montagem ou instalação. A maioria dos manuais usam palavras, números, desenhos e recursos gráficos para explicar algo. Desse modo, a leitura do manual de instrução implica na compreensão entre o texto verbal, escrito e o visual.

            A correlação entre o desenho e o objeto representado é fundamental para a compreensão da instrução, seguida da sequência indicada para a utilização do objeto/equipamento ou montagem.


3. CONSIDERAÇÕES FINAS

            Não obstante ao exposto neste artigo e elencados por alguns teóricos especialistas na área da temática leitura, tal assunto não exaure apenas com as apresentações e colocações ora descritas. O legado desses autores transformam-se em fulcro para que se possa avançar à novas pesquisas, a qual estimula e valoriza uma nova reflexão a respeito da leitura holística, consciente e reflexiva por parte do aluno.

            Vale ressaltar que o empenho para se evitar o fracasso à vida escolar e cotidiana do aluno em seu presente momento e ao longo de sua vida, é válido e compensador. Principalmente, no caso de uma má formação acadêmica quanto a leitura erudita. A leitura uma atividade que deve envolver a família do aluno, o professor(a), o governo e a sociedade como parte integrante. Visto que, disso depende um trabalho de mediação da leitura efetiva, afetiva e constante.  


4. REFERÊNCIAS


BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, DF: MEC, 1997.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & Linguística. 10 edição, Scipione São Paulo-SP, 2007.

CANCLINI, Nestor Garcia. Leitores, Especuladores e Internautas. Iluminuras São Paulo-SP, 2008.

DALMÔNICO, Vilde Luzia; Reginaldo José; PEZZI, Marcelo Rodrigo.
Guia Acadêmico. Edição Revisada. 2013. INESA. Joinville-SC

KLEIMAN, Angela. Oficina de leitura- teoria e prática. 15 edição, Campinas, São Paulo, Pontes Editores, 2013.






[1]  Murilo Inacio Dos Santos, Acadêmico do Curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto de Ensino Superior Santo Antônio – INESA – Joinville - SC

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